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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Lattes e a delinqüência acadêmica

Na ultima sexta-feira estava na xerox de ciências sociais, e conversando com um colega, este me pontuou que uma professora queria mandar os melhores trabalhos da turma pra serem publicados em algum evento.

Fiquei pensando nessa corrida pela publicação, pelo lattes, que resolvi escrever alguma coisa. Me baseei no texto "A corrida pelo lattes", de Antonio Ozai da Silva.

Precisamos nos situar na sociedade de competicoes e competências. E esta sociedade perversa não admite perdedores, apenas vencedores. Na área academica o lattes passa a ser a medida do sucesso, da produtividade e da competência.

Existe uma visão pragmática que faz com que o aluno entre na graduação e já pense na pós-graduação. E esta visão diz que o aluno precisa de um lattes grande o suficiente pra poder passar na frente numa corrida produtivista.

As publicacoes antes eram resultados, repito RESULTADOS, de uma pesquisa, a apresentação e socialização de uma pesquisa, hoje ela representa muitas reflexões abstratas, nas quais a imposição e a publicação. Mauricio Tratenberg chamou esse processo de delinquencia academica, no qual predomina na universidade uma pedantocracia, uma desresponsabilizacao do intelectual cuja ideologia e não ter nenhuma ideologia, a não ser a da publicação, gerando a lógica da "publicação a qualquer custo".

Lógico que essas exigências são exógenas, como os parâmetros de avaliação de produção dos docentes pela CAPES. Essas exigências estão sendo trazidas pros estudantes de graduação de uma forma sutil. Existe um processo de aceitação do discurso hegemonico, do chamado discurso competente, que conceitua Marilena Chaui.

Predomina a ideologia de que não importa onde se publicou ou quem vai ler o que se publicou, o que importa e ter o ISSN pra poder colocar no lattes. O que importa e que o nome esta nos anais do encontro.

Essa ideologia formou redes de cumplicidade nos quais estudantes fazem trocas academicas. Um faz um trabalho e coloca o nome do outro, e o outro faz outro trabalho e coloca o nome do um. Assim ganham os dois discentes e ganha mais ainda a universidade produtivista e competente.

Estas redes de cumplicidades também envolvem professores que colocam o aluno pra produzir artigos, muitas vezes seus orientandos de iniciação cientifica, e ocorre uma publicacao conjunta. Discentes se submetem a isso porque na matemática feita os ganhos são maiores, ainda que totalmente pragmáticos: ele ganha a publicação e seu nome nos anais do encontro ou no periódico e a porta aberta pra um possível mestrado.

Predomina um vale-tudo academico em nome de se aumentar o currículo lattes, parece esta corrida não tem fim, no fim pensa-se "e melhor vender a alma ao diabo", cometer a delinquencia academica, do que ver-se morto academicamente, com a imagem de incompetente.

Um comentário:

  1. Dias atrás, a PROPESP divulgou a carta de Boa Vista, documento produzido
    no Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e de Pós-Graduação - Regional
    Norte, com um preciso diagnóstico sobre o desenvolvimento científico e
    tecnológico na região.

    Aproveito para passar uma impressão pessoal sobre o assunto, no que diz
    respeito ao desenvolvimento da pesquisa e do ensino de Matemática na
    região e também, no final do e-mail, faço uma proposta para melhorar a
    produção científica na região. Essa visão pessoal talvez não ajude
    muito na tentativa de sensibilizar os órgãos de fomento para a nossa
    causa, mas ajuda, acredito, a entender um pouco esse nosso atraso. Quanto
    à proposta, espero a contribuição dos colegas, para que juntos, possamos
    levar ao nosso Pró-Reitor, Prof. Emannoel Tourinho.

    As Universidades Públicas instaladas no Norte, em particular a UFPA, em
    decorrência das dimensões continentais da região, fizeram a opção da
    interiorização com o objetivo de levar o conhecimento científico a cada
    município da região. O modelo que foi adotado foi um modelo diferente ao
    adotado pela USP, por exemplo. A interiorização da USP respeitava a
    vocação das regiões em que ela se instalava. O modelo da UFPA precisava
    levar cursos básicos, como por exemplo, Matemática, Letras e Pedagogia.
    Quando olhamos hoje, avaliamos que esse modelo deu certo, haja vista o
    curso de Biologia de excelência que temos em Bragança e outros cursos que
    deverão se tornar cursos de excelência, sem falar na oportunidade que
    alunos do interior do Estado tiveram para ingressar em programas de
    Mestrado e Doutorado.

    Entretanto, um preço muito alto também foi pago. Na Matemática é grande
    o número de Doutores que não publicaram suas teses de doutorado e é
    também grande o número de "mortes científicas". A causa disso, creio,
    é o incentivo financeiro que os professores recebiam e ainda recebem para
    participar dos cursos de interiorização. Um curso de 90 horas que é dado
    em 10 dias rende 6 bolsas de 1.300,00, valor este superior ao valor da
    bolsa de produtividade nível 2 do CNPQ. Esses cursos ocorriam e ainda
    ocorrem no período de férias, período este que a área de Matemática
    utiliza para os chamados cursos de verão, que nada mais é que a
    movimentação docente entre as instituições, visando essencialmente o
    fomento a pesquisa. Sem falar que os Professores que ainda não tem o curso
    de Doutorado, não querem mais se ausentar das suas instituições visando
    a sua qualificação profissional, pois não querem perder a oportunidade
    da complementação salarial através desses cursos de 10 dias.

    Assim, a pesquisa em Matemática e, por consequência, o trabalho de
    orientação, tornou-se um trabalho de poucos abnegados que muitas vezes
    trocam a oportunidade de dar um curso de 10 dias e ganhar 6.500,00 por
    passar 10 dias em outra instituição fazendo pesquisa. Infelizmente este
    preço alto continua sendo pago.....

    Abraços

    Giovany Figueiredo - Coordenador do PPGME - Programa de Pós-Graduação em
    Matemática e Estatísitica

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