Por Edilson Silva*, em 23.04.2010
O PSTU traz extensa matéria em recente edição de seu periódico, Opinião Socialista, criticando o PSOL. Até aí nada de novo. O PSTU faz com o PSOL o que o PCO, Partido da Causa Operária, faz com o PSTU, acusando-o de reformista, contra-revolucionário e outras bobagens. Bobagens porque, afinal, os males do PSTU não são estes, mas o seu inconseqüente idealismo e sua metodologia nada científica de análise da realidade. A novidade nesta matéria é que agora o PSTU ousa decretar a falência do PSOL, culpando a sua concepção partidária, que admite tendências permanentes no seu cotidiano partidário, como responsável por esta suposta falência.
A base para a afirmação do PSTU é o resultado da recente conferência eleitoral do PSOL, que foi concluída com a indicação única do nome de Plínio de Arruda Sampaio à presidência da República. Segundo o PSTU, o PSOL saiu rachado, o que inclusive justifica a sua posição de não querer aliança com o PSOL para a Frente de Esquerda. Esta afirmação do PSTU, como muitas outras, não passa no teste elementar dos fatos e busca esconder uma tática política tão nova quanto os tratados militares de Sun Tzu.
De fato, o PSOL passou por um duro processo interno. Uma intensa discussão interna. Foram mais de 11 mil filiados reunidos em 26 estados brasileiros (algo impensável para um partido como o PSTU). Somente o Amazonas não fez plenárias municipais. Somente em São Paulo reuniram-se certamente mais filiados e ativistas que o total do PSTU em todo o Brasil. Três pré-candidatos bastante respeitáveis, três quadros experimentados, mesmo com as diferenças existentes, viajaram pelo país debatendo nas principais capitais. O PSOL foi invadido por uma intensa discussão política. Debatemos estratégia política, programa para o Brasil, caminhos para o socialismo, concepção de partido. Foram muitas divergências, muitas mesmo, mas todas elas se debatendo em como organizar melhor a nossa classe para enfrentar o capital e sua barbárie. Eu mesmo achei e continuo achando que algumas posições são bastante equivocadas, mas se assim não fosse, não haveria as divergências internas.
Infelizmente, no final do processo, ações equivocadas de parte da direção anularam delegações, gerando fortes tensionamentos. Num ato maiúsculo, os descontentes abdicaram da disputa pela indicação e decretaram que a vida continua, todos no PSOL. O meu pré-candidato internamente não foi o candidato indicado pelo partido, mas, na condição de candidato do PSOL ao governo de Pernambuco, de consenso inclusive, estou disponível para fazer a campanha do Plínio, dentro do clima de respeito que deve presidir as relações que se pretendam unitárias num partido socialista, plural e democrático. Todos os militantes do PSOL, cada um a seu tempo, cada um com sua sensibilidade, saberá dar sua contribuição para a construção de nossa estratégia eleitoral.
Isso, com certeza, não significará abstenção de diferenças. A luta interna no PSOL vai continuar, e tomara que continue, com aperfeiçoamentos no funcionamento da democracia partidária, reunindo nas disputas internas não mais “apenas” 11 mil filiados, mas 20, 30, 50 mil filiados. Queremos que se multipliquem dentro do PSOL as disputas, mostrando a pulsação e vivacidade do partido, e com elas biografias como as de Luciana Genro, Chico Alencar, Ivan Valente, Raul Marcelo, Carlos Giannazi, Marcelo Freixo, Eliomar Coelho, Fernanda Melchiona, Pedro Ruas, Ricardo Barboza, Elias Vaz, João Alfredo. Com alguns destes tenho grandes divergências, mas os quero e vou sempre trabalhar para que estejam dentro do PSOL.
Queremos que o PSOL transforme em força política real os quase 7 milhões de votos obtidos em 2006 por nossa maior liderança, Heloisa Helena, que será eleita senadora por Alagoas, convertendo-se numa das maiores vitórias da esquerda socialista brasileira nesta conjuntura eleitoral.
Queremos mais. Queremos mais e novos Osmarinos, lutadores dos povos da floresta. Queremos mais intelectuais como Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho. Queremos mais garotos da terceira idade como Milton Temer. Queremos mais líderes como João Batista, Gim Cabral e Marilda, lideranças do MTL que estão sendo criminalizados por lutarem pela terra no Triangulo Mineiro.
Queremos mais jovens organizados politicamente nas universidades e no meio popular. Queremos mais lideranças sindicais, mais Janiras; mais e mais trabalhadores do campo e da cidade, camelôs, mais flanelinhas, como aqueles organizados em Petrolina, no sertão nordestino, e que tem no PSOL seu partido. Queremos mais ousados e ousadas jovens e não tão jovens lideranças que se lançaram a disputar mais de 400 prefeituras do país em 2008, dentre estas as maiores metrópoles.
Queremos mais mulheres como Bernadete, a candidata feminista do PSOL ao governo de Tocantins em 2010. Queremos mais gente ousada como o polêmico e decidido Cinco, do Rio de Janeiro, lutador da causa da Cannabis: descriminalização, já! Queremos mais ativistas corajosos, gays, como Jean Willis, o Big Brother com consciência de classe, que se candidatará a deputado pelo Rio de Janeiro. Queremos mais artistas críticos como Marcelo Yuka, que também será candidato pelo PSOL no Rio de Janeiro agora em 2010. Queremos tudo isto e todos eles como são, pois nos interessa processar esta diversidade num debate vivo, sem o qual o PSOL jamais será um partido popular, de massas, com condições verdadeiras de tirar a estratégia socialista dos discursos de auditório e transformá-la em realidade.
É este partido, que guarda dentro de si esta força e esta diversidade, que o PSTU ousa decretar a falência. A realidade fala outra coisa. O PSOL deve estar falido, e tomara que esteja mesmo, como possibilidade de ser um partido parecido com o PSTU. Aliás, para isto militamos todos os dias. O PSOL, como fundamos, nega-se a cometer os mesmos erros do PT, mas também nega-se intransigentemente a cometer os mesmos erros do PSTU.
É importante que se saiba que o PSTU não tem tendências internas, mas tem uma fração interna dirigente permanente que não admite qualquer divergência. Alguma semelhança com a era Stalin à frente do PC na ex-URSS? É por isso que a cada congresso do PSTU um grupo interno se organiza e, pensando que há democracia, tenta discutir alguma coisa, mas é esmagado pela fração interna permanente que dirige aquele partido, saindo em seguida. O PSTU é o partido não das tendências, mas das rupturas, incontáveis. Foi isso que aconteceu em 2001, por exemplo, quando uma plenária do PSTU realizada em Recife foi anulada por que a tendência contrária à maioria do Comitê Central foi vitoriosa. Esta manobra burocrática gerou a saída de mais um grupo organizado do PSTU, o Coletivo Socialista, mais tarde convertido em Pólo de Resistência Socialista, grupo que depois viria a fundar o PSOL com uma certeza: modelo PSTU, nunca mais!
A vida política interna do PSOL tem a ver com uma concepção partidária presente já no seu nome: LIBERDADE. É esta liberdade, com a clareza de que somos uma organização política de socialistas, e que acredita que sem povo organizado não há poder popular possível, que ousamos dizer que não estamos falindo, estamos apenas começando. É esta mesma liberdade e esta concepção partidária, de conviver com diferenças, que nos faz ver mesmo no PSTU o que nos une e não aquilo que nos separa, o que nos leva a propor, de forma honesta e franca, a construção de uma Frente de Esquerda para disputar as eleições 2010, para combater a falsa polarização PT versus PSDB e as falsas alternativas que se apresentam, como Marina Silva, do PV.
* Foi fundador do PSTU em 1994. Em 2002, foi fundador do Coletivo Socialista, dissidência do PSTU, que se transformou depois no grupo regional Pólo de Resistência Socialista, que com outras forças fundou o PSOL em 2004. Atualmente é Presidente do PSOL-PE e membro da Direção Executiva Nacional do PSOL.
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