A inauguração da nova sede do DCE-Ufpa: É preciso romper o imobilismo para derrotar a reitoria
Na última quinta-feira, 22/09, foi inaugurada a nova sede do DCE-Ufpa. No entanto, o que deveria ser um momento de felicidade, transformou-se numa festa que fortaleceu a imagem do REItor Maneschy e de seus agentes no seio do movimento estudantil. No evento, regado a coquetel da administração superior, o REItor foi o último a falar tonificando os aplauso dos burocratas da UJS (PC do B) e do PT. Foi a primeira vez, depois de mais de uma década, que o DCE UFPA montou um palanque oficial para o REItor.
Relatamos isso com tristeza porque o setor majoritário do DCE UFPA, a ANEL (PSTU) e o JUNTOS (MES), compõem a esquerda do movimento estudantil. Setores aliados com quem já travamos inúmeras lutas na UFPA e que conformamos uma chapa unitária para as últimas eleições do DCE.
Mas esse é só um ponto da história e da situação da universidade. Antes é preciso entender o que se passa e porque chegamos a essa situação.
2011 – o ano dos indignados
Esse ano iniciou com uma avalanche de mobilizações. No mundo surgem INDIGNAD@S em todos os continentes. Nos países árabes derrubaram ditaduras, na Europa enfrentam os planos de ajuste fiscal, no Chile estão dispostos a perder o ano letivo em troca de defender a educação pública. Até nos E.U.A e Israel já há milhares ocupando as praças. Em todas essas lutas há uma ligação com as greves da classe operária.
No Brasil começam a se expressar os primeiros sinais dos INDIGNAD@S. Numa dezena de universidades os estudantes enfrentam com mobilização, ocupação de reitoria e até greve estudantil a situação de caos das universidades. O REUNI, cujos efeitos negativos são percebido pelos estudantes, tem sido frontalmente atacado, o que pega o governo Dilma em cheio. Assim ficou claro na UnB onde parte da pauta era a suspensão do vestibular até que se resolvessem os problemas de infra-estrutura e superlotação no Campus de Ceilândia.
Ao mesmo tempo a juventude se expressa com outras pautas. Houve uma rebelião no Piauí contra o aumento das tarifas com milhares nas ruas e queima de ônibus. Milhares tomaram as ruas de Brasília e Rio de janeiro contra a corrupção.
Durante as ocupações o desgaste do governo ficou claro. Não seria diferente, pois em 9 meses, Dilma perdeu 5 ministros. É um momento então de apertar a denúncia para derrotar Dilma. Sobretudo porque as greves começam a ganhar força, como vimos na construção civil, bombeiros, montadoras e demais fábricas, professores, trabalhadores da saúde e do transporte, servidores das universidades, correios e bancários.
Essa dinâmica começa a marcar nossa universidade. A maré do rio Guamá já começou a encher o campus de indignação.
Na UFPA, o setor majoritário do DCE está apático
No entanto, o DCE-Ufpa está paralisado. Não teve uma linha para coordenar e impulsionar novas ocupações, greves estudantis e mobilizações. Pior é que nem ao menos produziu uma nota em apoio às lutas estudantis. Durante a greve da FASUBRA não tiveram como centro prioritário da atividade do DCE apoiar a greve e participar das assembléias e piquetes do SINDTIFES. Houve atividades em que o setor majoritário do DCE nem sequer apareceu!
Durante mais de 8 meses de gestão o DCE-Ufpa não organizou nem um protesto contra a REItoria. O único panfleto distribuído foi o convite para a festa de inauguração da sede da entidade, desastroso evento que já relatamos. O material nada dizia sobre as absurdas filas do R.U, sobre a falta de segurança e de livros na biblioteca, nada sobre a tentativa de maquiagem que o atual reitor tentou fazer em algumas salas, quando na verdade em inúmeras é impossível assistir aula, porque o calor é insuportável, há cadeiras e portas quebradas, ou mesmo em casos como no curso de Medicina em que os estudantes não possuem laboratório com equipamentos mínimos para as aulas experimentais. Não falaram nada sobre o circular que demora de 20 a 30 minutos para passar, nada sobre o turno da noite onde as secretárias não funcionam. Nada sobre o terminal do 3º portão, que está abandonado.
Em fim, atuam como se não existissem pautas dos estudantes, como se o reitor não fosse o responsável e na contra-mão da dinâmica mundial da juventude. O setor majoritário do DCE desconsidera a crise econômica mundial, seus efeitos no Brasil, a crise política do governo Dilma e a nova dinâmica da luta de classes nacional. Para que não restem dúvidas, basta avaliar como eles querem construir a proposta de campanha pelos 10% pra educação.
10% do PIB pra educação: no voto ou ocupando a reitoria?
Os companheiros da ANEL (PSTU) e do JUNTOS (MES), num momento em que a universidade passa uma das suas piores crises, propõe como única saída para os estudantes fazer um plebiscito e explicar porque devemos ter 10% do PIB para educação. Uma proposta de pura propaganda descolada das demandas reais da base e articulada sob uma avaliação de que não é possível organizar protestos reais na UFPA.
Apesar de reconhecermos a necessidade de aumentar as verbas para a educação, a melhor forma que os estudantes compreendam essa pauta é partir daquilo que é sentido no dia-a-dia. Por isso a importância da campanha pela ampliação do R.U (MAIS R.U, MENOS FILAS) como alguns Centros Acadêmicos, o Vamos à Luta, e estudantes independentes estão fazendo. Essa é a melhor forma de combater os cortes de verbas de Dilma e Temer e explicar a necessidades de elevar as verbas, de combater o orçamento votado para 2012 e conquistar os 10%.
Nesse sentido a verdadeira propaganda que devemos fazer é sobre a necessidade de ocupar a Reitoria da UFPA para obter nossas conquistas. Não temos dúvidas de que assim, por meio da ação, a luta pelos 10% pode contagiar a base. Do contrário será apenas uma campanha para pedir que o estudante deposite um voto numa urna, nada mais.
REItor não nos representa!
No entanto, além do que já relatamos, o que mais nos preocupou foi a atuação dos companheiros da ANEL e do JUNTOS, durante a festa de inauguração da sala do DCE. Em suas falas, não questionavam o REItor sobre nenhum dos problema da UFPA. Era como se a universidade estivesse muito bem, a ponto de o REItor ser a figura central da inauguração da sede do DCE! Sendo que esse gesto significou desprezo pela independência que deve regular nossa entidade. Uma política que não representa a indignação que começa a crescer no RU, nos corredores, nos terminal de ônibus, nas salas de aula da UFPA.
Por outro lado não se denunciou a política histórica da REItoria de invadir o espaço que era de responsabilidade do movimento, acabar com as áreas de recreação (vadião) ou de furtar os espaços destinados as Xerox dos Centros Acadêmicos. Nem ao menos se exigiu o retorno da finança do DCE(cantinas), roubadas pela reitoria anos atrás durante a gestão pelega dos caruanas!
Uma atividade assim só se viu no último congresso da UNE, quando a o PC do B organizou palanque para Lula discursar ao final de um dos atos de abertura do evento. Lá também nós do Vamos à luta estivemos dentre os que foram melar a festa do governismo.
Democracia real já no DCE UFPA!
Os companheiros da ANEL (PSTU), que possuem maioria isolada de diretores na gestão, nos enfrentaram durante a inauguração da nova sede do DCE, porque cantávamos palavras de ordem. Segundo a intervenção de alguns de seus dirigentes, aquele não era um ambiente de polarização. Chegaram ao absurdo de falar no microfone que “deveríamos parar com aquela briga de torcida”. Um método burocrático que tenta calar as diferenças políticas. E até agora não entendemos porque não polarizaríamos sobre o caos da universidade na presença do REitor? Porque estava errado cantar contra o reitor: “ô Maneschy chega de enrolação, quero mais bolsas, circular e bandejão”? Porque não fazer palavras de ordem contra a UJS e o PT, agentes do governo e do reitor no nosso meio? Qual o objetivo dessa coexistência pacífica com a administração superior, seus bolsistas e assessores?
Não bastassem tentarem nos impedir de cantar palavras de ordem, nós do Vamos à Luta, que somos parte da gestão do DCE, fomos impedidos de falar, sem que nos apresentassem nenhuma justificativa. Mas o PT e o PC do B, que são base de apoio do governo e agentes de Maneschky na universidade tiveram suas falas garantidas! Além deles um Pró-reitor teve direito a falar. E está mais do claro que ANEL e JUNTOS cortaram nossa intervenção porque sabiam que íamos acabar com a festa do REItor deixando claro os problemas da UFPA. Houve uma clara censura política contra o Vamos à Luta!
A linha bem comportada dos companheiros que são maioria no DCE esteve evidente na própria declaração da reitoria. No site da universidade uma matéria de destaque sobre a inauguração da nova sede do DCE descreve: “Cooperação – Para o professor Fernando Arthur Neves, a comemoração também se estende à cooperação entre o DCE e a administração superior. ‘Fico muito feliz que o Diretório tenha conseguido dialogar com a administração superior, para que pudéssemos construir um espaço, do qual todos os estudantes usufruam.”
Fernando Arthur Neves é Pró-reitor e principal articulador da odiada reitoria passada, e que agora coordena a intervenção de Maneschy, que é nada menos que o suplente do 1º vice-presidente do ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior), portanto, representante e aplicador da política do governo Dilma na universidade.
Por esse motivo é impossível que o DCE-UFPA não seja frontalmente oposição a REItoria. É impossível, estar na presença do reitor e não denunciar os problemas gravíssimos da nossa universidade. Precisamos de um DCE indignado, não apático. De um DCE de combate e para ação, não imobilista e paralisado. De um DCE que não vacila nem coopera com nossos inimigos. Um DCE radicalmente de oposição ao Reitor Maneschky. Um DCE inimigo do REI.
É necessário mudar o rumo para evitar mais um semestre de tédio na UFPA, sem nenhuma luta. A reforma de uma sala não pode ser um empecilho para criticar o REItor ou paralisar a luta estudantil.
Em nossa opinião a melhor maneira de enfrentar a reitoria é construir em cada instituto ou curso grupos que envolvam C.A´s e estudantes em geral para lutar pela pautas concretas e encurralar a reitoria. A única maneira de arrancar vitórias é derrotar o Reitor Maneschy. Fazer como na UFF, UFSC, UFPR, UnB e tantas outras que ocuparam a reitoria e saíram com suas pautas atendidas. Isso é urgente porque a linha majoritária atual pode levar ao fortalecimento da UJS e do PT no movimento.
De nossa parte estamos movendo todos os nossos esforços e quarta-feira, dia 28/09, esperamos os companheiros da ANEL e do JUNTOS, na audiência pública às 12:00, no R.U do básico.
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