A universidade está fundamentada no tripé ensino x pesquisa x extensão. Até a prática de ensino vem sendo atacada ultimamente com a Educação a Distancia. Não podemos conceber o modelo de universidade sem a produção de conhecimento, e sem levar este conhecimento à sociedade.
Também devemos ter em mente que o conhecimento produzido tem que estar a serviço da transformação social, isso significa que um conhecimento critico tem que estar sensibilizado com os problemas dos que foram historicamente oprimidos e deve ter caráter emancipatório. As ciências sociais, apesar das divergências conceituais colocadas nos debates, tem dado uma resposta á sociedade.
O que precisamos, como estudantes, é de aumento de numero de bolsas de pesquisa e extensão. Precisamos de seleção pública pra essas bolsas. Todavia, apesar da administração superior tentar glorificar a universidade não conhecemos a fundo os projetos de pesquisa que são desenvolvidos no interior dos departamentos e da faculdade de ciências sociais. Quais são esses projetos? Onde eles estão? A serviço de quê?
Na contramão do processo de produção cientifica temos observado emergir com grande força a idéia de criação de uma empresa júnior. Infelizmente alguns colegas acabam sendo enganados com uma falsa idéia de se fazer pesquisa. Com o processo de sucateamento da educação pública no Brasil a autonomia da universidade confundiu-se com a autonomia financeira, quando a universidade vai buscar parcerias com a iniciativa privada para não ser sufocada nas suas receitas, é nesse contexto que nascem as fundações privadas (FADESP, FINATEC). A idéia de empresa Junior tem seu cerne na prestação de serviços de consultoria mercadológica, sendo oportunista com o nome da UFPA, na medida em que os utiliza para vender seus serviços e validar seus resultados.
Para os colaboradores se passa a idéia de que ali existe pesquisa. Ora, não se faz pesquisa em duas semanas. A pesquisa é fundamentada em que teoria? Onde está o termo de ética em pesquisa? Qual a metodologia da pesquisa? Qual o objetivo da pesquisa? De que forma essa psedo pesquisa vai contribuir para melhorar a sociedade? Existe produção de ciência?
Infelizmente pela falta da prática de extensão tem-se ai uma grande oportunidade de iniciação na pesquisa quantitativa, mas erramos em aplicar forças na construção de um modelo de empresa que em nada vai contribuir na formação acadêmica e critica dos discentes de ciências sociais, pois ali não se aprende a formatar um projeto nos seus eixos estruturantes, abandona-se dessa forma um ideal de universidade pública, gratuita e de qualidade para avançar na abertura da universidade como uma consultoria empresarial.
Um princípio que consideramos fundamental é o financiamento público da educação. Isto significa que quando a universidade adota parcerias com empresas privadas que vão encomendar pesquisa acaba perdendo algo fundamental: a autonomia, pois passa a estar orientada por princípios mercadológicos. A prática das empresas juniores nas universidades tem demonstrado que empresas encomendam levantamentos de dados sobre a viabilidade de determinados serviços.
Principalmente em ciências sociais isto é algo pernicioso na medida em que não deve ser o fim ultimo o levantamento de dados pro mercado, isso demonstra o mito da imparcialidade da pesquisa e sua autonomia na sociedade de classes.
Algo que também me deixa intrigado é o propósito da Empresa Junior. Li no blog de um dos entusiastas desse projeto que “se você quiser que sua empresa ascenda, nos procure”. Certamente não há uma preocupação de combater a fome, desnutrição, pobreza e outras mazelas sociais, ou seja, o comprometimento social com a pesquisa é quase zero (para adotarmos eufemismos).
A realidade concreta é que quase não temos projetos e bolsas de pesquisa em nossos laboratórios, observatórios, o que Ciências Sociais precisa é de planos de pesquisa, afinal a produção cientifica tem que ser parte da formação de todos os estudantes de ciências sociais, não apenas de alguns iluminados e favoritos de determinados docentes.
Existe o projeto que foi colocado para a faculdade, ainda não sei de que forma, mas me arrisco a fazer algumas perguntas: será que este projeto é uma necessidade concreta do curso, apontado como a saída para a pesquisa pelos estudantes? Ele foi amplamente debatido com os discentes?
Já concluindo gostaria de dizer que investigar a realidade sociopolítica na sua complexidade, tentar compreender sua dinâmica e apontar saídas para as contradições existentes tal como a produção de um conhecimento crítico, autônomo e criativo é tão fundamental para a liberdade e a afirmação do projeto político dos setores que são historicamente oprimidos, como a juventude e a classe trabalhadora que não podemos deixar que meros levantamentos de dados em eleição de reitoria seja a causa ultima de nossas lutas, e que possamos lutar pela ampliação efetiva da pesquisa na nossa universidade, no nosso instituto e na nossa faculdade.
A maior assertiva é a organização estudantil para cobrar a expansão de vagas e bolsas de pesquisa, observando que a pesquisa é um patrimônio da universidade, direito de todos os estudantes, e não somente para pequenos privilegiados. O que está em jogo é a qualidade na formação e disso os estudantes não podem abrir mão.
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