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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Arte e Cultura no Capitalismo e na Universidade

A arte e a cultura ganharam status de mercadoria na sociedade capitalista, com a finalidade de estimular o consumo, célula mãe do capitalismo.

Interessante notar a cultura e as artes como instrumentos de dominação e legitimação da opressão, com padrões brancos, heteronormativos, burgueses, com a finalidade de manipulação das massas, ganhando força com a indústria cultural. Grande exemplo disso é o processo de demonização da cultura afro-brasileira, sobretudo no aspecto religioso, reforçado por setores da Grande Mídia.

O revolucionário Leon Trotsk e o surrealista André Breton fundaram no México em 1938 a Federação Internacional por uma Arte Independente e Revolucionaria (FIARI). O objetivo da FIARI pode ser sintetizado pela máxima “o que queremos: a independência da arte para a revolução, e a revolução para a libertação definitiva da arte”.

Outro dia estava numa polêmica com um amigo que dizia que a arte não tem uma finalidade em si mesma. Creio que a arte e a cultura não sejam tão neutras assim, e que cumprem um papel político importantíssimo na manutenção do imperialismo cultural, devendo estar a serviço da transformação social. Também acredito e defendo a liberdade artística e cultural como um principio, mas na sociedade de consumo tudo converge para a mercantilização das artes e da cultura, e que somente num “outro mundo possível” a plena liberdade artística deixará de utopia, fora do jogo do capital.

A valorização das culturas e das artes deve passar pelo fortalecimento do cinema marginal, teatro alternativo, teatro de rua, rodas de samba, festas populares, não sendo encaradas apenas como atrativos turísticos, mas como formas de resistência frente a invasão cultural (e política). Diante disso surge como urgente e necessário o incentivo à produção artística e cultural.

Acabamos de realizar um Fórum Social Mundial aqui em Belém em que pouco se debateu a produção cultural, sobretudo no marco da gravidade da crise que atinge o mundo, quando se tenta que a fatura seja paga pela juventude e pelos trabalhadores. Com incrível pirotecnia a organização do FSM trouxe artistas “consagrados” para as culturais, como Seu Jorge, Jorge Bem Jor, Teatro Mágico. Quantos artistas amazônicos poderiam se apresentar? Quantos jovens tiveram que sentar-se no chão e fazer arte e cultura sob a chuva nas noites no Acampamento da Juventude? Algo a se pensar.

A UNE (União Nacional dos Estudantes) nos seus tempos de luta usava o CPC (Centro Popular de Cultura) para politizar através da arte. Nos últimos anos criou-se o CUCA , Circuito Universitário de Cultura e Arte, que foi uma iniciativa valorosa no sentido de resgatar a produção cultural nas universidades, mas que não conseguiu amarrar como a contra-reforma universitária do governo Lula, que precariza e desmonta a educação superior pública, não prevê recursos para o incentivo a produção cultural.

Nas IES particulares a situação se agrava pela falta de organização do movimento estudantil, a exceção do DCE Unama que é referencia nacional em luta nas particulares, pois não se tem nenhum tipo de atividades culturais, pois a lógica dos tubarões de ensino é o lucro a qualquer forma.

O potencial de nossos universitários para produzir poemas, crônicas, fotografias, músicas, quadros, peças de teatro, entre outras precisa ser incentivado, a cultura precisa ser oxigenada nas nossas universidades. Nossas universidades precisam criar um canal horizontal, livre e democrático, mas, sobretudo permanente pra produção artística, com bolsas e editais com recursos disponíveis pra tal.

Na gestão passada (2007/2008) o DCE UFPA conseguiu realizar o Rock in Rio Guamá, uma iniciativa que perpassa o entendimento de que a universidade é lugar de artista.

Vamos à luta para tornar a universidade brasileira um espaço plural, livre e democrático, no qual a produção artística faça parte da realidade e do cotidiano de uma universidade libertaria e transformadora.

Um comentário:

  1. Muito bom o seu texto. Meu nome é Gilberto, da cidade de Santos-SP. Faço faculdade de Administração na ESAMC e gostaria, se fosse possível, de citar o seu texto em um trabalho de Filosofia que irei apresentar (e defender), sobre a Arte e o Capitalismo.
    O Tema é bem abrangente, mas o meu ponto de vista segue bem próximo do seu. Irei defender a utilização das Universitades Brasileiras como Centro Cultural, assim como elas são utilizadas na Europa.
    Acredito que a cultura, bem como o Esporte, são os alicerces para o desenvolvimento do Brasil que meus filhos e netos viverão, por esse motivo gostei muito do seu texto.

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