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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Partidos Políticos e Independentes no Movimento Estudantil: Uma dialética necessária?



“É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro, evita o aperto de mão de um possível aliado, convence as paredes do quarto e dorme tranqüilo, sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo” (Raul Seixas)

A dinâmica de partidos políticos inseridos nas lutas do movimento estudantil tem suscitado grandes debates. Os principais discursos são exatamente contra o aparelhismo que acabou tomando conta da UNE (União Nacional dos Estudantes) pelo PC do B e a própria construção do Congresso Nacional de Estudantes pela Conlute/PSTU direcionam as discussões acerca dos velhos métodos e da velha forma de fazer política no movimento estudantil.
Contra essas maneiras de se fazer política se levantou o discurso de “uma nova cultura política no movimento estudantil” por vários campos políticos, ligados a tendências partidárias, buscando o desatrelamento das entidades (ca’s, da’s, dce’s, executivas e federações de curso).
Também com isso surgiu o discurso, em grande parte influenciado pela lógica pós moderna de que o problema do movimento estudantil está nos partidos, levando duvida e descrédito pra qualquer militante organizado em partido com interesse em disputar as eleições estudantis, perpassando uma certa demonização partidária. Pra começar a disputa dos partidos políticos não ocorre somente no âmbito bianual das eleições, e sim nas lutas do cotidiano, e isso reflete como os partidos incentivam seus quadros á militância.
Afinal os partidos refletem um comprometimento em torno de um projeto de sociedade a se defender, e a construção dessa sociedade se dará na disputa de consciência nas entidades, sejam elas estudantis ou sindicais.
Mas ultimamente parece que pertencer a partidos políticos está meio “fora de moda”, fervem os discursos de independentes e apartidários contra o aparelhamento, o que tenho total acordo. O movimento estudantil deve lutar sim pela sua independência, contra as decisões verticais tomadas na burocracia de partidos, mas acima de tudo deve ser independente em relação aos ataques a universidade pública, no que concerne ao desmonte da educação e a expansão sem qualidade, e neste caso deve perceber que o problema não são os partidos em si, mas a traição desses partidos na defesa da universidade, como foi o caso de quando a direção majoritária da une passou de malas, cuias e bagagens pro lado do governo Lula, atuando como cão de guarda pra defender a destruição do caráter público das universidades.
A esquerda que não se vendeu e segue nas lutas em defesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade tem direito legitimo de seguir lutando por esses ideais, passando pelo prisma de que a mobilização permanente será a alternativa de direção para as conquista e por uma educação de qualidade.
Há quem diga que os estudantes organizados em partidos são apenas porta-vozes dos seus respectivos partidos, todavia é justamente aí que percebemos onde estão os bons partidários e os partidários que vendem as lutas. De 2007 pra cá vivenciamos a reorganização do movimento estudantil, deflagrado a partir da ocupação de reitorias de universidades, começando na USP e tendo ápice na UnB, partidos como PSOL e PSTU deram apoio completo e irrestrito as ocupações, demonstrando seu comprometimento em defesa da universidade púbica, gratuita e de qualidade. Nessas oras eu pergunto: onde estava o PC do B, que controla a UNE? Lúcia Stumpf, presidenta da UNE acusou os ocupantes de facistas, demonstrando que o problema não é ser de partido, mas acima de tudo ser de partidos que vendem as bandeiras do movimento estudantil em mesas de negociação com reitorias e governos e se ausentam das lutas.
Na UFPA a ocupação da reitoria conseguiu varias vitórias, entre elas a conquista do Restaurante Universitário do profissional, a reforma da ponte, aumento no número de bolsas, manutenção das atividades culturais, entre outros. E quais partidos estavam na linha de frente da ocupação da reitoria? PSOL, que é maioria no DCE, e em segundo lugar o PSTU.
O que precisamos combater veementemente é a burocratização no movimento estudantil. Percebemos que várias decisões são tomadas por dois ou três iluminados da direção nacional de juventudes de partidos. Os partidos políticos tem total direito de atuar no movimento estudantil, mas de forma nenhuma deve aparelhar as entidades ao partido, para manter a própria autonomia e independência, um princípio para nós fundamental. O desafio para todos os partidos é fazer a reorganização do movimento estudantil pela base, integrar os estudantes nas lutas. Por exemplo, por que a conlute ainda não fundou uma nova entidade? O PSTU, que tem grandes lutadores e eu admiro em conjunto, saiu da UNE e isso mudou o que na vida do estudante? A resposta para isso é o fato de que não é um desejo dos estudantes, que essa proposta não nasce e é debatida no interior das entidades.
Assim, precisamos avançar na mobilização em conjunto com a base, para não cair no erro que foi a burocratização da CUT, UNE, entre outros.
Ademais também é preciso perceber que o sectarismo e oportunismo na atuação de muitos partidos afastou e desestimulou potenciais lutadores e ativistas para as lutas no movimento estudantil. É preciso ter uma resposta política imediata ou podemos entrar num refluxo nas lutas.
Mas por outro o sentimento anti-partidário e a desconfiança com militantes de partidos leva muitas pessoas a se chamarem de independentes, se afastando dos estereótipos de partidos, como politicagem, oportunismo, entre outros. É totalmente válido e legitimo a liberdade de não se organizar em nenhum partido, todavia cresceu bastante o oportunismo com o discurso de autonomia e independência em relação a partidos, levando muitos estudantes a votar em chapas autônomas, mas sem propostas de fato que defendam a universidade pública e a educação de qualidade.
Ser independente também não significa que esses militantes tenham mais ética que os filiados a partidos, levando apenas uma ligeira vantagem na onda que arranhou a imagem e a atuação de partidos no movimento estudantil. O que tenho visto é que em vários espaços cresceu um movimento independente, mas que acaba sendo uma música de uma nota só, ou seja, ser independente de partidos não pode ser a única proposta de chapa ou de gestão.
O único discurso independente, muito válido por sinal, pode gerar a desmobilização e a despolitização pela falta de um aprofundamento político que pode gerar o medo de cair no partidarismo. Apesar de toda e qualquer chapa que dispute eleição de CA, DCE, DA, entre outros, poder ser independente, não pode deixar de debater problemas fundamentais que estão no seio das políticas educacionais, como Reuni, Prouni, Lei de Inovações Tecnológicas, Reforma Universitária, que são o cerne que gera desdobramentos sobre o sucateamento vivido hoje pela universidade brasileira.
A identidade política é fundamental para qualquer eleição disputada por qualquer chapa, em que pesem as diferenças entre os integrantes independentes, e essa falta de identidade política tem sido o grande problema das chapas independentes porque não conseguem dizer de que lado sambam.
Vou encerrando por aqui, e indo pra luta, no batalho cotidiano pra mudar a cultura política no movimento estudantil. Grandes lutas a todos e todas.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A Homofobia no novo momento do movimento estudantil



Recentemente um comentário nas listas do movimento estudantil causou debates acalorados sobre homofobia e movimento estudantil, mais no sentido de criticar pessoalmente o companheiro que escreveu, e não no sentido da reflexão acerca das praticas discriminatórias.
É consenso que vivemos um novo momento no movimento estudantil, que começou com a ocupação da USP, e tem ápice com grandes vitórias na UnB (Universidade de Brasília). As lutas agora se dão por uma universidade radicalmente diferente, com expansão de qualidade, as lutas nas universidades particulares começam a ganhar corpo com a partir do exemplo do DCE Unama.
Todavia, a universidade e os movimentos estudantis não são um bolha, inertes ás práticas do conjunto da sociedade, nada que justifique entretanto determinadas práticas. Temos uma universidade e um movimento estudantil extremamente racista, machista e homofóbico, este último cerne da discussão desse texto.
Quantos alunos, professores, servidores assumem livremente sua orientação sexual? A resposta para isso aponta o retrato da universidade que temos, e a queremos, livre e libertaria só virá mediante lutas. O movimento estudantil por sua vez acaba reproduzindo a homofobia, algo estranho no novo cenário de reorganização das lutas, e perdemos muitos lutadores que poderíamos aglutinar se nos despíssemos do preconceito.
Por outro lado reconhecemos que conseguimos alguns avanços, que precisam ser radicalizados. Ultimamente virou tradição debater o combate às opressões nos fóruns e espaços do movimento estudantil, talvez algo politicamente correto. Mas de outro ângulo precisamos combater o “politicamente correto”. O debate de diversidade sexual, pelo lobby das Paradas, acabou sendo introduzido timidamente nos espaços do movimento estudantil, ainda que apenas na forma de mesas de debates em alguns encontros. Lembro que no ultimo ENEL (Encontro Nacional dos Estudantes de Letras) a Executiva de Letras patrocinou um debate de combate às opressões, e nós, do coletivo nacional de juventude Vamos a Luta, apontamos a necessidade de levar este debate pra a base, para que seja feito não somente nos fóruns do movimento estudantil, mas cotidianamente, em cada CA e DCE.
Nossa posição em favor de uma universidade radicalmente diferente, com educação de qualidade, contra o aumento de mensalidade, sem privatizações, tem que ser também vanguarda contra todas as formas de opressão. Um movimento estudantil libertário é o nosso grande desejo, mas não será materializado somente com a nossa boa vontade, e sim resultados das lutas.
Projetos como a Reforma Universitária, Reuni, Lei de Inovações Tecnológicas, entre outros em nada vão ajudar na construção de uma universidade que combata a homofobia porque pesquisam apenas nichos mercadológicos, e não pesquisam sobre homofobia ou qualquer outro mecanismo de transformação social.
Foi com lutas que conseguimos a criação da diretoria glbtt da UNE no CONUNE (Congresso da UNE) de 2005. No inicio a diretoria serviu de braço do governo, semeando ilusões no programa Brasil sem Homofobia, mas com conquistas, como o Programa Universidade Fora do Armário, que ajudou a fundar coletivos de diversidade sexual em universidades. Todavia, hoje a diretoria parou de funcionar e o movimento estudantil segue na inércia homofóbica.
Tem sido realizado o Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual, e em que pese às criticas ao Encontro por seu academicismo, é o único espaço onde estudantes podem se reunir pra debater diversidade sexual, e poucas correntes do movimento estudantil deram importância pro debate e pro encontro em si. Criaram-se grupos universitários de diversidade sexual (Plural na UFES, Colcha de Retalhos na UFG, Diversitas na UFF, Orquídeas na UFPA, entre tantos outros) que não tem atuado com os DCE’s, CA’s, DA’s, Executivas de curso, UNE e Conlute, e vice-versa, e nesta atuação não nos referimos as gestões, e sim as entidades.
Em 2008 o Centro Acadêmico de Veterinária da USP foi protagonista de um fato histórico. Não estamos falando das lutas em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade, mas a um ato vergonhoso de homofobia. Dois estudantes se beijaram e foram expulsos da festa pela direção do CA. Uma atitude que contradiz-se mais ainda por vir da direção do movimento estudantil, por reforçar valores preconceituosos da heteronormatividade e perpetuar a opressão. Felizmente conseguiu-se dar respostas e se fazer um ato vitorioso contra a homofobia, articulado pelo GT de GLBT da Conlutas, pelo DCE USP e pelo grupo CORSA.
São estas formas sutis e explicitas de opressão que precisamos acabar para fazer valer os direitos humanos, a pluralidade e a liberdade sexual. Isso envolve a radicalidade da própria democracia nas universidades. Vemos o movimento estudantil lutar por democracia interna, eleições paritárias, entre outras bandeiras importantíssimas. Mas nessa hora vem a pergunta: onde está o movimento estudantil para defender uma universidade livre, onde todos e todas possam se beijar livremente? Isto tem haver com o nosso conceito de democracia.
É uma tradição nos grupos do movimento estudantil fazer cursos de formação política, precisamos com urgência transversalizar o debate de diversidade sexual nesses espaços. A luta contra a homofobia é a luta da resistência de um movimento estudantil combativo, de luta e atuante.
Chegamos em 2009 no olho do furacão de uma crise econômica que a burguesia tenta empurrar para os trabalhadores e a juventude pagarem a conta. A grande preocupação, alem das outras de praxe, é que o debate de diversidade sexual que sempre foi secundário acabe totalmente esmagado no rolo compressor.
O movimento estudantil precisa dar respostas concretas á homofobia da universidade e principalmente de si mesmo. Precisamos fazer da diversidade sexual um valor presente no dia a dia das trincheiras de lutas. O que não podemos mais tolerar são as piadinhas e outras formas de discriminação no seio do movimento estudantil com o cínico argumento de que a homofobia é um problema mais amplo, e porque a sociedade é homofobia o movimento estudantil também é. Este é um argumento vazio que legitima a homofobia e avizinha-se da hipocrisia. Precisamos libertar o movimento estudantil da homofobia pra construirmos lutas de fato transformadoras.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Arte e Cultura no Capitalismo e na Universidade

A arte e a cultura ganharam status de mercadoria na sociedade capitalista, com a finalidade de estimular o consumo, célula mãe do capitalismo.

Interessante notar a cultura e as artes como instrumentos de dominação e legitimação da opressão, com padrões brancos, heteronormativos, burgueses, com a finalidade de manipulação das massas, ganhando força com a indústria cultural. Grande exemplo disso é o processo de demonização da cultura afro-brasileira, sobretudo no aspecto religioso, reforçado por setores da Grande Mídia.

O revolucionário Leon Trotsk e o surrealista André Breton fundaram no México em 1938 a Federação Internacional por uma Arte Independente e Revolucionaria (FIARI). O objetivo da FIARI pode ser sintetizado pela máxima “o que queremos: a independência da arte para a revolução, e a revolução para a libertação definitiva da arte”.

Outro dia estava numa polêmica com um amigo que dizia que a arte não tem uma finalidade em si mesma. Creio que a arte e a cultura não sejam tão neutras assim, e que cumprem um papel político importantíssimo na manutenção do imperialismo cultural, devendo estar a serviço da transformação social. Também acredito e defendo a liberdade artística e cultural como um principio, mas na sociedade de consumo tudo converge para a mercantilização das artes e da cultura, e que somente num “outro mundo possível” a plena liberdade artística deixará de utopia, fora do jogo do capital.

A valorização das culturas e das artes deve passar pelo fortalecimento do cinema marginal, teatro alternativo, teatro de rua, rodas de samba, festas populares, não sendo encaradas apenas como atrativos turísticos, mas como formas de resistência frente a invasão cultural (e política). Diante disso surge como urgente e necessário o incentivo à produção artística e cultural.

Acabamos de realizar um Fórum Social Mundial aqui em Belém em que pouco se debateu a produção cultural, sobretudo no marco da gravidade da crise que atinge o mundo, quando se tenta que a fatura seja paga pela juventude e pelos trabalhadores. Com incrível pirotecnia a organização do FSM trouxe artistas “consagrados” para as culturais, como Seu Jorge, Jorge Bem Jor, Teatro Mágico. Quantos artistas amazônicos poderiam se apresentar? Quantos jovens tiveram que sentar-se no chão e fazer arte e cultura sob a chuva nas noites no Acampamento da Juventude? Algo a se pensar.

A UNE (União Nacional dos Estudantes) nos seus tempos de luta usava o CPC (Centro Popular de Cultura) para politizar através da arte. Nos últimos anos criou-se o CUCA , Circuito Universitário de Cultura e Arte, que foi uma iniciativa valorosa no sentido de resgatar a produção cultural nas universidades, mas que não conseguiu amarrar como a contra-reforma universitária do governo Lula, que precariza e desmonta a educação superior pública, não prevê recursos para o incentivo a produção cultural.

Nas IES particulares a situação se agrava pela falta de organização do movimento estudantil, a exceção do DCE Unama que é referencia nacional em luta nas particulares, pois não se tem nenhum tipo de atividades culturais, pois a lógica dos tubarões de ensino é o lucro a qualquer forma.

O potencial de nossos universitários para produzir poemas, crônicas, fotografias, músicas, quadros, peças de teatro, entre outras precisa ser incentivado, a cultura precisa ser oxigenada nas nossas universidades. Nossas universidades precisam criar um canal horizontal, livre e democrático, mas, sobretudo permanente pra produção artística, com bolsas e editais com recursos disponíveis pra tal.

Na gestão passada (2007/2008) o DCE UFPA conseguiu realizar o Rock in Rio Guamá, uma iniciativa que perpassa o entendimento de que a universidade é lugar de artista.

Vamos à luta para tornar a universidade brasileira um espaço plural, livre e democrático, no qual a produção artística faça parte da realidade e do cotidiano de uma universidade libertaria e transformadora.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Produção de Pesquisa em Ciências Sociais – Aquilo que realmente precisamos...

A universidade está fundamentada no tripé ensino x pesquisa x extensão. Até a prática de ensino vem sendo atacada ultimamente com a Educação a Distancia. Não podemos conceber o modelo de universidade sem a produção de conhecimento, e sem levar este conhecimento à sociedade.

Também devemos ter em mente que o conhecimento produzido tem que estar a serviço da transformação social, isso significa que um conhecimento critico tem que estar sensibilizado com os problemas dos que foram historicamente oprimidos e deve ter caráter emancipatório. As ciências sociais, apesar das divergências conceituais colocadas nos debates, tem dado uma resposta á sociedade.

O que precisamos, como estudantes, é de aumento de numero de bolsas de pesquisa e extensão. Precisamos de seleção pública pra essas bolsas. Todavia, apesar da administração superior tentar glorificar a universidade não conhecemos a fundo os projetos de pesquisa que são desenvolvidos no interior dos departamentos e da faculdade de ciências sociais. Quais são esses projetos? Onde eles estão? A serviço de quê?

Na contramão do processo de produção cientifica temos observado emergir com grande força a idéia de criação de uma empresa júnior. Infelizmente alguns colegas acabam sendo enganados com uma falsa idéia de se fazer pesquisa. Com o processo de sucateamento da educação pública no Brasil a autonomia da universidade confundiu-se com a autonomia financeira, quando a universidade vai buscar parcerias com a iniciativa privada para não ser sufocada nas suas receitas, é nesse contexto que nascem as fundações privadas (FADESP, FINATEC). A idéia de empresa Junior tem seu cerne na prestação de serviços de consultoria mercadológica, sendo oportunista com o nome da UFPA, na medida em que os utiliza para vender seus serviços e validar seus resultados.

Para os colaboradores se passa a idéia de que ali existe pesquisa. Ora, não se faz pesquisa em duas semanas. A pesquisa é fundamentada em que teoria? Onde está o termo de ética em pesquisa? Qual a metodologia da pesquisa? Qual o objetivo da pesquisa? De que forma essa psedo pesquisa vai contribuir para melhorar a sociedade? Existe produção de ciência?

Infelizmente pela falta da prática de extensão tem-se ai uma grande oportunidade de iniciação na pesquisa quantitativa, mas erramos em aplicar forças na construção de um modelo de empresa que em nada vai contribuir na formação acadêmica e critica dos discentes de ciências sociais, pois ali não se aprende a formatar um projeto nos seus eixos estruturantes, abandona-se dessa forma um ideal de universidade pública, gratuita e de qualidade para avançar na abertura da universidade como uma consultoria empresarial.

Um princípio que consideramos fundamental é o financiamento público da educação. Isto significa que quando a universidade adota parcerias com empresas privadas que vão encomendar pesquisa acaba perdendo algo fundamental: a autonomia, pois passa a estar orientada por princípios mercadológicos. A prática das empresas juniores nas universidades tem demonstrado que empresas encomendam levantamentos de dados sobre a viabilidade de determinados serviços.

Principalmente em ciências sociais isto é algo pernicioso na medida em que não deve ser o fim ultimo o levantamento de dados pro mercado, isso demonstra o mito da imparcialidade da pesquisa e sua autonomia na sociedade de classes.
Algo que também me deixa intrigado é o propósito da Empresa Junior. Li no blog de um dos entusiastas desse projeto que “se você quiser que sua empresa ascenda, nos procure”. Certamente não há uma preocupação de combater a fome, desnutrição, pobreza e outras mazelas sociais, ou seja, o comprometimento social com a pesquisa é quase zero (para adotarmos eufemismos).

A realidade concreta é que quase não temos projetos e bolsas de pesquisa em nossos laboratórios, observatórios, o que Ciências Sociais precisa é de planos de pesquisa, afinal a produção cientifica tem que ser parte da formação de todos os estudantes de ciências sociais, não apenas de alguns iluminados e favoritos de determinados docentes.

Existe o projeto que foi colocado para a faculdade, ainda não sei de que forma, mas me arrisco a fazer algumas perguntas: será que este projeto é uma necessidade concreta do curso, apontado como a saída para a pesquisa pelos estudantes? Ele foi amplamente debatido com os discentes?

Já concluindo gostaria de dizer que investigar a realidade sociopolítica na sua complexidade, tentar compreender sua dinâmica e apontar saídas para as contradições existentes tal como a produção de um conhecimento crítico, autônomo e criativo é tão fundamental para a liberdade e a afirmação do projeto político dos setores que são historicamente oprimidos, como a juventude e a classe trabalhadora que não podemos deixar que meros levantamentos de dados em eleição de reitoria seja a causa ultima de nossas lutas, e que possamos lutar pela ampliação efetiva da pesquisa na nossa universidade, no nosso instituto e na nossa faculdade.

A maior assertiva é a organização estudantil para cobrar a expansão de vagas e bolsas de pesquisa, observando que a pesquisa é um patrimônio da universidade, direito de todos os estudantes, e não somente para pequenos privilegiados. O que está em jogo é a qualidade na formação e disso os estudantes não podem abrir mão.