A volta do presidente Zelaya, agora asilado na embaixada do Brasil, encorajou a resistência popular ao se completar três meses do golpe. A ditadura respondeu, endurecendo a repressão contra o povo desarmado.
Desde a volta de Zelaya, a resistência denuncia 10 mortos pelas forças repressivas, centenas de feridos e cerca 400 pessoas foram presas em um estádio. A embaixada brasileira foi atacada com gases venenosos, que afetaram a todo o bairro. O governo decretou o estado de sítio, suprimindo todas as garantias constitucionais por 45 dias e cancelou, para silenciá-los, os dois grupos importantes de oposição ao golpe, o Canal 36 e a Rádio Globo, dos quais seqüestraram os computadores.
Diante da ofensiva repressiva, a resistência popular torna-se forte nos bairros, onde ela se manifesta e enfrenta a polícia e o exército. Mas o regime golpista, longe de ceder, avança em suas medidas repressivas para tentar impedir a revolta popular e seguir ganhando tempo, tentando legitimar suas eleições fraudulentas (que são em novembro).
Isto pode ser feito porque a OEA (Organização dos Estados Americanos) segue chamando de “um acordo” e o imperialismo estadunidense condena apenas “de boca”, mas na verdade mantem seus vínculos com os golpistas. Na última reunião da OEA, o representante yanqui, Lewis Amselem, disse que o retorno de Zelaya foi “irresponsável e estúpido”.
Negociação ou mobilização?
A “operação retorno” de Zelaya e sua aparição surpresa na embaixada, está ao serviço do fortalecimento da resistência ou da negociação? Do nosso ponto de vista, está ao serviço da negociação com os golpistas. Caso contrário, o governo de Lula nunca teria garantido o ingresso de Zelaya e nem que ele estivesse usando a embaixada como um comitê político em si. Diz-se que o governo de Chávez também foi parte dessa operação. Mas independentemente de quem realmente organizou, a realidade é que tudo indica que há um acordo, aprovado por ambos, para usar a presença de Zelaya como arma de pressão para buscar uma solução negociada baseada no acordo de São José (sob a mediação do presidente de Costa Rica). É claro que Lula surgiu como o homem mais próximo de Obama e do imperialismo, como o “negociador de conflitos”, buscando evitar o aumento da mobilização das massas. No caso de Honduras, Lula, Obama e a OEA estão jogados para evitar a todo custo que Micheletti caía como fruto de uma mobilização revolucionária.
A solução negociada segue atolada porque os golpistas, por enquanto, se negam a fazê-la. Talvez por isso, é que o imperialismo começa agora a tomar distância da “operação retorno”, quando em um primeiro momento Hillary Clinton havia manifestado, a semana passada, que o retorno de Zelaya foi “uma oportunidade para uma saída pacífica à crise” ( La Nación , Argentina – 29/09).
Reforçar a mobilização
A presença de Zelaya em Tegucigalpa reavivou a resistência ao golpe. Mas uma das debilidades da resistência é a sua direção. Pois Zelaya e os principais dirigentes da Frente (muitos influenciados pelo chavismo) seguem com sua política que visa controlar a mobilização para buscar uma negociação com os golpistas. Sua presença não está centrada em organizar a resistência, fortalecendo e aprofundando a mobilização, como o único caminho para derrubar Micheletti.
Por exemplo, Zelaya convocou o povo para a “ofensiva final” para segunda-feira (28/09). Mas convoca a “ofensiva final” como se tudo estivesse para ser definido na segunda-feira. Quando se trata de uma luta em curso, acaba tendo um aspecto aventureiro e outro de desmoralização para o povo, caso não seja o “final” que se anuncia. O dia 28/09 pode não ser contundente, com pouca preparação e em meio ao estado de sítio recém decretado. Por outro lado, Zelaya abraça os candidatos golpistas que o visitaram, e fala de um possível acordo com Micheletti. O sacerdote Andrés Tamayo, membro da Frente de Resistência e que acompanha Zelaya na embaixada, afirmou que: “o que necessita a Resistência é que o secretário geral da OEA, José Miguel Insulza, e o presidente costa-riquenho, Oscar Arias, se façam presentes em Tegucigalpa, caso contrário todo esforço será em vão”. Expressões que podem incentivar a desmobilização.
Lula, Arias e a OEA querem impor um pacto com os golpistas, e liquidar o castigo para eles, assim como qualquer convocação à Assembléia Constituinte. Isso é o que estabelece os acordos de São José.
Por isso, o centro é organizar e massificar a mobilização através de uma greve geral, para impor o que reivindca o povo em luta e a própria Frente de Resistência: o fora Micheletti e a restituição de Zelaya sem qualquer condicionantes. Boicote às eleições de novembro, liberdade aos detidos; basta de repressão e que se convoque uma Assembléia Nacional Constituinte Livre e Soberana.
Os socialistas revolucionários apoiamos a luta pelo retorno de Zelaya ao poder, ainda que saibamos que seria a volta de um governo patronal. Nós lutamos por um governo dos trabalhadores e campesinos em Honduras. Mas acompanhamos o reclamo democrático do povo hondurenho, o de restabelecer o governo que haviam eleito. Apoiamos a unidade de ação para derrotar o golpe, assim como o fizemos quando se deu o intento de se derrubar Chávez em abril de 2002, e também apoiamos a reivindicação massiva de restituição de seu governo. A possível caída de Micheletti, em virtude da luta revolucionária, seria um grande triunfo das massas, o que abriria melhores condições para seguir a luta por um governo dos trabalhadores.
Agora há que se seguir impulsionando a mobilização até derrubar a ditadura golpista, com seu Congresso e Corte Suprema, e não negociar com eles. O caminho para derrotá-los é a greve geral e a mobilização popular, organizando seus comitês de autodefesa, chamando os policiais e soldados a desobedecer a seus superiores, para passarem à resistência.
Todos os povos latinoamericanos, temos que apoiar esta perspectiva de rebelião popular hondurenha, para derrotar os golpistas e repudiar todos os intentos dos Estados Unidos e da OEA, para impor o pacto de São José ou qualquer condicionante ao povo hondurenho. A mesma exigência deve ser feita aos governos latinoamericanos, como Lula, Chávez, evo Morales ou Cristina kirchner, que dizem defender a democracia em Honduras, e em especial aos governos centroamericanos na fronteira: Guatemala, El Salvador e Nicarágua, que repudiem o “pacto de São José” e se ponham ao serviço incondicional de apoiar a luta do povo hondurenho.
UIT-QI - CIR
Unidade Internacional dos Trabalhores - QI - Comitê Internacional Revolucionári
Nenhum comentário:
Postar um comentário